terça-feira, 11 de setembro de 2012

Confortável e cômodo


Post: Na casa do papai depois dos 30

Quando o assunto é morar na casa dos pais depois dos 28 anos (só para não dizer 25) me lembro de 3 histórias.
1- Eu: Como é a relação com seus pais?
Mulher solteira com 31 anos: Boa, maravilhosa, eles são ótimos.
Eu: E isso é bom?

2- Homem: minha ex-psicóloga me disse que o fato de eu não ter nenhum relacionamento amoroso tinha ligação com os meus pais, não gostei do que ouvi e vim pedir uma segunda opinião.
Eu: mora com eles aos 33 anos?
Ele: sim.
Eu: Talvez você tenha que buscar uma terceira opinião.

3- Eu tinha uns 16 anos e ouvi com vergonha alheia um vizinho de rua de seus 35 anos que urrava com os pais “eu não aguento mais morar nessa casa, nem pra trazer meu jantar no quarto essa mulher presta! (provavelmente apontava para a mãe)”

O que essas três situações tem em comum?
Pessoas adultas que tem uma relação infantilizada, com dependência emocional, financeira e existencial dos pais. E com um agravante, nem se davam conta que suas vidas estavam empacadas por conta disso.
É assim que o mundo dos adultos vê você quando diz que está com a razão
Explico. Relacionamento com os pais é quase um funcionalismo público, pode deixar a pessoa emocionalmente acomodada por ser um tipo de atividade vitalícia e sem avaliação de desempenho, quase incondicional em que tudo vale.
Pense na relação de um pai/mãe com um filho adulto certamente não é uma relação de adulto-adulto, algo que simula isso, mas vem da ordem de adulto-criança. Mesmo que os dois lados relutem e se debatam nessa ideia o ponto é que por mais adultos que sejam para os pais sempre serão crianças frágeis.
Esse tipo de estrutura relacional pode criar debilidades sutis na maneira de atuar no mundo de uma forma geral. É como se fosse um vício psicológico subliminar de esperar que as pessoas ofereçam algo de especial e privilegiado à elas. Quase uma condição passiva e que carrega uma sensação imperceptível de retaguarda social. Mesmo os que dizem pagar suas contas e ajudar nas despesas de casa no fundo eles sabem que se suas aventuras financeiras derem errado haverá alguém por perto para amparar.
A pessoa que está por conta tem menos propensão de sentir esse muro de arrimo atrás de si. Se realmente não depende dos pais ela sente que se não correr atrás de seus sonhos e colocar a mão na massa ninguém vai fazer cara de dodói, passar a mão na cabeça e perdoar os errinhos do bebê.
Um relacionamento amoroso é de outra ordem, parece mais com um empreendimento onde não há garantias, é preciso dedicação contínua, análise de resultado, troca de experiência e quase não temos descanso, afinal não há certezas numa variação de mercado constante.
Imagine uma pessoa com mentalidade de funcionalismo público tentando agilizar o próprio negócio. Fracasso certo. Motivo pelo qual muitos que precisam pedir autorização para trazer o namorado/noivo para “dormir” em casa acabam naufragando em suas relações amorosas.
A ideia de ter que prestar contas sobre horário, rotina e sumiços, ainda que não declaradamente, cria uma sensação de supervisão constante. Como se houvesse um “anjinho” da guarda olhando por nós. Isso por si só já responde por um comportamento de eterna espera por milagres que não surgem na vida de quem sempre aguarda um futuro melhor sem construir um presente vívido e concreto.
A pessoa acostumada com os mimos da relação com os pais dificilmente consegue se adaptar numa relação amorosa se espera as mesmas coisas e oferece o mesmo desempenho que tem com os genitores.
Muitos alegarão limitação financeira, afinal, fantasiam o sonho da casa própria. Honestamente? Quem quer aprender a se virar mora de aluguel, república, cabana no meio do mato, sei lá, mas não fica esperando as condições ideais para dar o passo decisivo.
Por mais amorosos e cúmplices que os pais sejam não apaga o fato que não é de amor que estou falando, mas autonomia, fibra, responsabilidade pelas ações que toma e suas consequências.
Exagerado? Talvez, mas num país como o Brasil que tem uma geração de grandes adolescentes  de quase 40 anos mamando no bolso (e no colinho) dos pais não é de se espantar que tenhamos políticos que tratam o dinheiro público como uma grande teta emocional (e financeira)



Vai sair em Blog: Sobre a Vida
17 de Setembro de 2012 8:00

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