segunda-feira, 30 de julho de 2012

Você vive numa bolha


Você vive numa bolha chamada realidade, frágil como tal
A realidade é um diamante de mil faces e cada face é o olhar de uma das mil pessoas. Não há realidade em si, mas uma realidade co-construída coletivamente a tal ponto que surge um paradoxo, há uma realidade que não há.
Quando nos apaixonamos por alguém temos uma pequena ilusão de ótica, achamos que é a pessoa um elemento apaixonante, mas a paixão acontece no seu corpo, no estômago que fica suave, os olhos brilham, a mente leve e o coração palpitante. Ela acontece em você e não na pessoa. Se um evento que você previamente tinha elegido como “as dez coisas repugnantes sobre uma pessoa” surge contrariando suas expectativas sobre o que é uma vida de casal decente rapidamente essas sensações apaixonadas desaparecem. A pessoa é a mesma, mas sua interação com ela não é, e por esse motivo TUDO muda para seus olhos. A paixão está nos olhos de quem vê.
Num salão de eventos acontecerá um casamento muito esperado. Noivos e convidados aguardam ansiosos no salão e tudo acontece lindamente, o sagrado matrimônio acontece ali. Pessoas solteiras de um dia para o outro se “tornam” casadas. No dia seguinte haverá um baile de debutante e uma singela garota de 15 anos se “revela” mulher aos olhos dos demais e talvez dela própria. No dia seguinte acontece um velório naquele salão e as pessoas se despedem do ente querido que partiu em condições dramáticas.
O que era aquele espaço de eventos, uma igreja, um local de anunciação da juventude ou uma funerária? Todas elas e nenhuma. Em cada ritual as pessoas unidas por um ideal do que era aquele espaço se portavam tal qual a ocasião pedia. O salão era uma igreja e no entanto não era.
A realidade tão “real” que gostamos de imaginar não é pré-dada em si, mas um aparecimento co-emergente. Surge no momento que surge para mim e se um movimento delicado dos meus olhos observar diferente outra coisa se forma diante de mim “magicamente”.
Quando falamos que algo não presta ou é ruim, estamos falando do que na realidade? Da relação que estabelecemos com aquele objeto e não do objeto em si. Portanto, em cada opinião “neutra” que emitimos, existe uma porção de nós implicada.
Homens prestam ou não prestam dependendo do tipo de relação que nutrimos. Nós co-criamos a realidade que habitamos.
Quando falamos que a vida é uma luta ou que precisamos combater um inimigo interno ou externo a própria referência de combate denuncia uma mente que funciona de forma opositora à realidade, portanto, ela cria para si uma realidade que caminha nessa saga heróica, com inimigos, aliados, mocinhos, bandidos. Se você nao estiver em guerra interior não precisa temer nada, afinal não haverá nenhum inimigo. Alguém diz: “você viu como fulano é metido?” o outro responde “achei autoconfiante”. São percepções distintas que não definem a realidade como é, mas como se apresenta para alguns. Até a chamada realidade científica é uma co-emergência que surge a partir de um constructo intelectual que veio se forjando cientista após cientista, a tal ponto que não existe uma única forma de ver ciência, ainda que se fale de um consenso.
Isso não tem nada de místico, nem é mero jogo de palavras, mas uma maneira fluida de entender que a realidade que chamamos de realidade é a nossa realidade. Assim como esse texto será percebido para cada pessoa como uma peça que vai encaixar dentro do seu próprio mundo. Para os indignados causará indignação para os desatentos passará batido.
A beleza, assim como o amor, a paz, a fé, a vida para cada pessoa é um resultado da maneira que a trajetória de seu olhar se deu até hoje

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